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domingo, novembro 24, 2024

Influencer temia por segurança e reformou Fusca de acidente fatal com cão

Fusca dirigido por Jesse ficou destruído após colisão em estrada do Oregon; ocupantes de SUV sobreviveram à batida frontal

Cerca de dois anos antes de morrer em acidente de carro nos Estados Unidos, o viajante brasileiro Jesse Kozechen estava concluindo a reforma do Fusca 1978 que dirigia no momento da batida fatal. Na entrevista em março de 2020, o influenciador revelou preocupação com a segurança do veículo, a ponto de ter considerado interromper a viagem que fazia com o velho Volkswagen até o Alasca.

Kozechen e Shurastey, seu cachorro de estimação, perderam a vida na última segunda-feira (23), quando o Fusca e um SUV bateram de frente em uma rodovia do Oregon, nos Estados Unidos. Ele e seu golden retriever estavam há cinco anos na estrada a bordo desse mesmo Fusca, apelidado de Dodongo – a jornada teve início no Brasil em maio de 2017 e acumulava mais de 85 mil km rodados em 17 países.

“Considerava retornar por não estar viajando com um carro totalmente seguro. Agora, com a reforma e o Dodongo ficando mais confortável e oferecendo mais segurança, talvez eu ganhe um ânimo para viajar mais um pouco, antes de voltar para escrever um livro, descansar e planejar a próxima aventura”, disse o paranaense na ocasião.

Após sofrer muitas panes mecânicas e variados perrengues com seu VW 1300 L, o aventureiro havia iniciado a restauração do carro em uma oficina de Pachuca de Soto, no México, em novembro de 2019. A reforma foi custeada com recursos provenientes de uma rifa que Jesse promoveu entre seus seguidores nas redes sociais.

Antes disso, ele já tinha adaptado o Fusca, acrescentando chuveiro, reservatório de água potável e suporte para uma barraca, instalada no teto.

Contudo, nenhuma das modificações seria capaz de proporcionar a segurança da qual Kozechen e Shurastey tanto precisavam na colisão frontal do Volkswagen contra um Ford Escape na Rodovia US-199, perto da cidade de Selma.

Por que Fusca é inseguro

Na batida, Dodongo ficou completamente destruído e seus ocupantes morreram no local. No SUV, todos sobreviveram: a motorista de 62 anos, que precisou ser hospitalizada, e uma criança, que saiu ilesa da batida.

Somente a perícia irá esclarecer as circunstâncias da tragédia, mas a diferença de idade entre os carros envolvidos ajuda a explicar por que Jesse e seu golden não resistiram ao impacto enquanto aqueles a bordo do utilitário esportivo escaparam da morte.

Não sabemos o ano de fabricação do Escape, mas fotos do acidente evidenciam que se trata de um projeto moderno na comparação com o Fusca, produzido há 44 anos.

“A diferença entre os dois veículos quanto a itens como tecnologia construtiva, disponibilidade de equipamentos de segurança, materiais empregados e exigências para homologação é enorme tanto na prevenção contra o impacto quanto na redução dos danos causados pela batida aos ocupantes”, informa Michel Braghetto, membro da Comissão Técnica de Segurança Veicular da SAE Brasil.

Segundo o engenheiro, de 1978 para os dias de hoje os automóveis ficaram muito mais seguros, não apenas devido à evolução das técnicas para fabricá-los, como também a reboque de normas regulatórias cada vez mais rígidas impostas pelos governos às montadoras.

“No passado, a legislação era mais flexível. Além disso, há algumas décadas não existiam, como hoje, institutos independentes de segurança veicular, que realizam testes de impacto para informar o consumidor quais são os modelos mais seguros e inseguros disponíveis no mercado”.

Braghetto destaca alguns fatores que evidenciam essa evolução, dentre eles o conceito de estrutura deformável: se no passado a resistência a impactos era vista como sinônimo de qualidade, há alguns anos a regra é construir veículos com carroceria deformável, capaz de absorver e distribuir a energia proveniente do impacto antes que ela chegue ao motorista e passageiros. É como se o próprio carro funcionasse como um amortecedor.

“A tecnologia evoluiu com o uso de diferentes materiais na estrutura do veículo para dissipar e distribuir essa energia em locais estratégicos, enquanto outras partes mais rígidas compõem uma célula de proteção no habitáculo”, explica o engenheiro.

Michel Braghetto esclarece que a filosofia hoje é combinar tecnologias de proteção passiva, feitas para mitigar os danos causados pelo impacto, com dispositivos de proteção ativa – projetados para evitar a colisão.

Os airbags, os cintos de segurança, a carroceria deformável e até os bancos pertencem ao primeiro grupo, enquanto recursos como freios ABS, controles de tração e estabilidade e assistentes à condução, como frenagem automática de emergência, detecção de pedestres, sensor de ponto cego e alerta de saída involuntária da faixa, integram a segunda categoria.

“O Fusca é um projeto da época da Segunda Guerra e não traz nada disso. Se tivesse recursos como freios a disco e direção assistida e mais precisa, o risco de acidente poderia ter sido minimizado”.

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