Tricolor planeja pagamento em até 16 anos, mas requer forte abatimento do valor. Justiça marcará assembleia para credores avaliarem a proposta do Paraná
O Paraná Clube apresentou o plano de recuperação judicial (RJ) para ter um planejamento de pagamento das dívidas na última sexta-feira. O débito apresentado foi de R$ 74,6 milhões, distribuído em quatro classes de credores. Esse valor total, contudo, será corrigido.
A ação ocorre na 1ª Vara de Falências e Recuperação Judicial de Curitiba, que aceitou a RJ paranista em julho deste ano através da juíza Mariana Gluszcynski Fowler Gusso. A Justiça marcará uma assembleia para aprovação ou rejeição da proposta, que tem Maurício Obladen, o mesmo da RJ do Coritiba, como administrador judicial.
O ge teve acesso ao processo, que justifica o pedido por conta dos cenários antigo, como a queda para a Série B em 2007, e do atual, com prejuízo de R$ 6 milhões no ano passado e aumento da dívida para R$ 147 milhões.
Nesta temporada, o Paraná ainda foi rebaixado para a Divisão de Acesso no Paranaense e não conquistou o acesso na Série D. Assim, o Tricolor não tem calendário nacional pela primeira vez na história a partir de 2023.
Bandeirinha de escanteio na Vila Capanema, estádio do Paraná Clube — Foto: Rodrigo Sanches/Paraná
Apesar de apresentar R$ 74,6 milhões para a RJ, a quantia devida pelo Tricolor é maior. Os processos foram inclusos com os valores iniciais, sem atualização do andamento das ações.
Vale destacar que a recuperação judicial engloba as quantias trabalhistas e cíveis. Segundo o balanço financeiro de 2021, o débito desses segmentos é de R$ 92,7 milhões.
- Fiscal: R$ 8,9 milhões
- Trabalhista: R$ 37,7 milhões
- Cível: R$ 55 milhões
- *Fonte: balanço financeiro de 2021
Na RJ, a cúpula paranista apresenta o pagamento em um período de 16 anos e pede descontos altos nos variados grupos de credores.
- Classe I – Credores Trabalhistas: R$ 43,6 milhões (90% de desconto)
- Classe II – Garantia Real: R$ 0
- Classe III – Credores Quirografários: R$ 25,9 milhões
- Classe IV – Credores ME’s EPP’s: R$ 5 milhões
Os créditos até R$ 181,8 mil, por exemplo, seriam pagos em até um ano com 90% de desconto. O mesmo aconteceria com os credores acima deste valor, mas também receberiam R$ 181,8 mil no mesmo período. Ambos estão inclusos na Classe I.
Já a Classe III, dos quirografários, prevê um desconto de 92%, com pagamento anual por 15 temporadas. A primeira parcela seria paga somente um ano e meio depois da aprovação e homologação da RJ em assembleia.
Esse tipo de credor, na falência ou recuperação judicial, não possui garantia real para o pagamento de seu crédito. A última classe, IV, tem o mesmo planejamento dos quirografários e envolve Empresa de Pequeno Porte (EPP) e Microempresa (ME).
Dentro do processo, o Paraná citou que possui uma renda mensal de R$ 304 mil vinda de patrocinadores, bilheteria do estádio e o programa de sócio-torcedores, entre outros. A cúpula paranista alegou que “possui todas as condições e possibilidades de se reerguer (seja pela via recuperacional ou até por investidores na SAF)”.
O clube ainda informou que constituiu a Paraná Clube SAF (Sociedade Anônima do Futebol) e citou casos de Figueirense e Coritiba como exemplos para ter o pedido aprovado pela Justiça. Outro argumento foi a realização do Ato Trabalhista desde março de 2018, que recentemente viu a Justiça pedir seu término por “má-fé”.
Quitação com imóveis
A RJ paranista autoriza que o Paraná ofereça seus bens, móveis ou imóveis, em garantia para a captação de recursos financeiro. Na ação, o Tricolor até coloca a Vila Capanema e o CT Ninho da Gralha como estrutura, embora ambos não pertençam e sejam apenas administrados pela direção.
Os outros patrimônios são a sede da Kennedy e a Vila Olímpica do Boqueirão. De acordo com avaliações judiciais, a sede social tem o valor de R$ 88 milhões, e o estádio em R$ 37,5 milhões.
Já a sub-sede do Boqueirão, em frente a VO, teve seu leilão de 2018 cancelado. A propriedade foi arrematada por R$ 9 milhões pela MRV Engenharia, mas o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) rejeitou o pregão em julho deste ano com a justificativa que o imóvel era impenhorável por ser uma doação.
Com isso, o Paraná voltou ser proprietário do local e tem que devolver R$ 2,5 milhões da venda. Esse valor foi utilizado há cinco anos na gestão do então presidente Leonardo Oliveira.
Fonte: G1