20.4 C
Curitiba
sábado, novembro 23, 2024

Tecnologia: vilã ou heroína da educação do seu filho?

Ao escolher a escola, verifique como a tecnologia está integrada ao ensino. Isso pode definir o sucesso do seu filho

Helena Luz tem 3 anos e a mãe, Patrícia Luz, logo percebeu que a menina já reconhecia os ícones dos aplicativos no celular e sabia deslizar os dedos na tela, sem que ninguém a tivesse ensinado. “Baixamos jogos educativos, mas depois de um tempo ela não se interessava mais e só queria acessar os vídeos do YouTube. Hoje controlamos o uso em casa e sempre sabemos o que ela está assistindo, mas na maioria das vezes é só entretenimento mesmo”, conta.

Quem convive com crianças certamente entende como é difícil mantê-las longe da tecnologia. Muitos pais se empenham em blindar os pequenos desse contato, mas isso apenas adia o inevitável: “Ela nasceu em um mundo diferente e vejo que não dá para ir contra sempre, então procuramos maneiras para a tecnologia ajudar no desenvolvimento dela”, explica Patrícia.

A ajuda veio do Colégio Adventista KIDS, em São Luís, onde a Helena fica em horário integral. Tanto nas aulas da Educação Infantil quanto no programa do contraturno, ela participa de atividades com o uso de tablet, sempre direcionadas para algum tipo de conteúdo. A escola tem uma plataforma própria de streaming e mais de 500 jogos educativos, que podem ser acessados pelas famílias também.

Para a doutora em Educação e mestre em Tecnologias Educacionais, Carolina Magalhães Costa Cavalcanti, a maneira que a escola usa as tecnologias é o mais importante a considerar. Ela explica que se a escola troca a leitura de uma revista impressa por um site ou mesmo por assistir a um vídeo no YouTube, significa o uso passivo da tecnologia, entretanto se o aluno é incentivado a construir, por exemplo, uma maquete das pirâmides do Egito em espaços digitais, é o uso ativo, o que promove aprendizagens mais significativas.

“A forma menos eficaz é quando a tecnologia substitui uma entrega presencial. Pesquisas mostram que quando damos o protagonismo aos alunos no processo de aprendizagem, mediado pelo uso de tecnologias, a experiência é mais produtiva”, destaca a doutora.

Mais tecnologia após a pandemia

Com a pandemia, muito se falou no uso da tecnologia como ferramenta essencial nas escolas. De forma abrupta as salas de aula foram fechadas e as famílias e os educadores foram forçados a repensar o uso da internet, já que ela foi a única maneira de continuar transmitindo conhecimento a milhões de estudantes. “[Com a pandemia] as crianças acabaram tendo acesso às tecnologias em casa, por necessidade, mas a realidade é que muitas delas já gastavam muitas horas jogando no celular e/ou assistindo vídeos online”, ressalta a doutora Carolina.

Outro legado – antes impensável – deixado pela pandemia foi a aproximação dos pais com os professores, já que muitos foram levados a participar mais da vida escolar dos filhos no período de isolamento; essa parceira através da tecnologia estreitou a comunicação e promoveu o relacionamento.

A pandemia antecipou o que já deveria estar acontecendo na sala de aula. As escolas adventistas, por exemplo, conseguiram oferecer aulas remotas em tempo recorde porque a plataforma digital E-class já estava pronta; enquanto outras escolas demoraram a se organizar e depois passaram a usar ferramentas externas, com poucos recursos.
— Marcelo Matos, gestor da Rede de Educação Adventista no Maranhão.

Quando as aulas foram suspensas, os professores dormiram analógicos e acordaram precisando ser digitais, e muitos tiveram dificuldades. “Eu já utilizava a tecnologia nas aulas, mesmo assim nos primeiros dias eu me perguntava se seria capaz de continuar segurando a atenção dos meus alunos”, conta Thianna Neves, professora há seis anos.

Mesmo tendo cursado Pedagogia já na chamada era digital, Thianna conta que a abordagem sobre tecnologias durante a faculdade foi superficial. Para se destacar como professora, ela buscava conhecimento sozinha, lendo livros e vendo vídeos na internet, quando descobriu as ferramentas que começou a inserir nas aulas, como Kahoot, Classdash, Educaplay, Minecraft e os games da plataforma E-class; assim o repertório foi aumentando. Só que agora, com as aulas remotas, ela precisava andar uma milha a mais.

A solução foi se capacitar. Thianna e todos os professores da Educação Adventista estão cursando a pós-graduação em Metodologias Ativas, financiada pela rede para a qual trabalham. “Existem muitas formas atrativas de ensinar e não é apenas inserir a tecnologia e nem usar essas ferramentas sem propósito. Existem aulas que são mais produtivas sem a tecnologia, com outras formas de conduzir o aluno ao aprendizado. Eu consigo definir melhor agora quando e o porquê de cada estratégia”, explica.

A professora salienta que, inclusive, as ferramentas de tecnologia utilizadas na escola têm o acesso à internet controlado para manter o foco no aprendizado, porque sem isso é muito fácil o aluno migrar do conteúdo onde está aprendendo para outro, apenas com entretenimento.

Essa transformação repentina na educação por causa da pandemia amenizou as críticas à tecnologia e hoje a discussão gira muito em torno do acesso, já que de acordo com o DataSenado, 26% dos estudantes brasileiros de escolas públicas não possuem internet. “A tecnologia veio para ficar e nós investimos para ter os recursos mais atuais nas aulas e para ter equipes mais qualificadas”, salienta Marcelo.

Quanto mais tecnologia, melhor a aula é?

A volta gradual às salas de aula apresentou o ensino híbrido, que mescla o virtual com o presencial, uma tendência do século XXI que não se extinguirá com o fim da pandemia. Seja qual for o ambiente, é fator indiscutível entre os educadores que o uso da internet e tecnologias é caminho sem volta. “O potencial [da tecnologia] é muito grande. Pode ser uma forte aliada no desenvolvimento do pensamento crítico, criativo e científico”, diz a doutora Carolina.

E é exatamente sobre o desenvolvimento criativo nas crianças pequenas que pausam os maiores questionamentos quanto ao uso da tecnologia. Por oferecer informações de forma mais facilitada através da internet, o potencial criativo das crianças estaria sendo aniquilado?

Para a doutora Carolina a resposta é: Depende. “As tecnologias não aniquilam a criatividade. Se forem usadas como ferramentas, podem até dar asas para a imaginação das crianças. A ferramenta Scratch, por exemplo, permite que eles criem seus próprios joguinhos e para isso é necessário que imaginem e criem um cenário, personagens, narrativa, etc… Retomo o que disse: O aluno é agente passivo ou ativo neste processo?”, questiona.

No Colégio Adventista de São Luís KIDS, como em outras unidades da rede, o ambiente virtual facilita o acesso a materiais complementares para enriquecer a aprendizagem, projetando o estudante como protagonista; e os recursos dinâmicos como vídeos, animações, jogos e interatividade contribuem não apenas para despertar o interesse, mas para a fixação do conteúdo.

“A Helena só tem três anos e nem conseguimos imaginar o quanto de tecnologia ela vai usar profissionalmente, por exemplo, porque todos os dias surgem coisas novas. É bom que ela seja inserida e que a escola ofereça formas de aprender com esses recursos, porque já entendemos que não temos como evitar e isso vai fazer parte da rotina dela e de todo o mundo para sempre”, sintetiza Cleberson Luz, pai da Helena.

Negócios

- Propaganda -spot_img

Últimas Publicações