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domingo, novembro 24, 2024

Amigas criam startup que já retirou 600 toneladas de lixo do meio ambiente

Duas amigas, que se conheceram durante uma ação social em Salvador (BA), fundaram uma startup que desenvolve soluções para reduzir o lixo nas grandes cidades. O trabalho já retirou 600 toneladas de resíduos do meio ambiente e gerou R$ 1,5 milhão em renda para catadores de material reciclável.

Saville Alves, 30 anos, e Gabriela Tiemy, 33, são co-fundadoras da Solos, empresa dedicada a promover a economia circular e o descarte correto de resíduos recicláveis, como o plástico, que tem ações na Bahia, em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul.

A Ecoa, as responsáveis contam que logo perceberam afinidades, entre elas a consciência ambiental, enquanto atuavam na TETO, organização não governamental latino-americana que atua na construção de casas emergenciais e programas de habilitação social.

“Fernando Pessoa disse que ‘as sociedades são conduzidas por agitadores de sentimentos, não por agitadores de ideias’. Essa frase foi uma das primeiras sínteses de nossas percepções sobre o que nos levou a permanecer por tantos anos na TETO e o que seria capaz de, em outros espaços, também gerar as transformações que acreditávamos ser urgentes”, diz Saville.

A jovem aponta que, nas favelas, a ausência do estado é notória. O lixo, segundo ela, é uma dessas manifestações latentes. “Você vê e sente o cheiro do descaso”, afirma.

A Solos é um negócio de impacto que promove economia circular, junto a territórios e marcas, por meio da mobilização de pessoas para realizar o descarte correto das embalagens pós-consumo. O objetivo é melhorar a vida de todos, das cooperativas de reciclagem às tartarugas marinhas.

A atuação ocorre em duas frentes. A primeira considera experiências sustentáveis, que buscam o impacto a médio e longo prazo com mudanças de comportamento duradouras. Com ações de base da economia criativa, impulsionam a economia circular, promovendo a tomada de consciência sobre o tema e a mudança de hábitos e práticas.

A segunda frente aborda mobilização e logística, que é de impacto imediato, realiza o mapeamento de grandes e médios geradores, criando soluções de coleta seletiva e logística reversa de embalagens, direcionando o material coletado para cooperativas de reciclagem parceiras e apoiando setor público e privado com dados sobre o impacto gerado.

Em todas as ações são monitorados indicadores como geração de renda para os atores mais vulneráveis da cadeia (catadores, cooperados e outras populações em situação de vulnerabilidade, podendo fazer recortes de gênero, sexualidade e raça); volume de resíduos destinados para a reciclagem, que se tornam matéria-prima para novas invenções, reduzem a emissão de gases de efeito estufa, consumo de água e energia (no caso do vidro, a redução pode chegar a 75%); e, por fim, a população conscientizada.

“Em todas as ações que fazemos, os resíduos coletados são destinados para cooperativas parceiras, que são mapeadas e com as quais mantemos relacionamento e damos apoio ao longo de todo o ano. Em alguns projetos, também incrementamos módulos de capacitação para os cooperados e temos em conjunto debatido e combatido preconceitos, com o olhar de inserção e valorização da mulher preta catadora” diz Saville Alves, cofundadora da Solos.

A empreendedora destaca que mais de 600 toneladas de materiais foram recolhidas ao longo dos trabalhos. Segundo ela, é o equivalente a 30 milhões de garrafas pet de 2 litros. Essa arrecadação foi possível graças ao Braskem Recicla, principal plataforma de informação sobre economia circular da Solos, que coleta em diversos estados do país, como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul, e ao RODA, primeiro e único delivery de reciclagem.

A vida juntou

Quando se conheceram, as amigas já haviam adotado novos hábitos, como a preferência por uma alimentação vegetariana e por produtos de origem local, além da redução do lixo. Desde o surgimento da ideia até o que de fato se tornou a Solos, foi uma trajetória compartilhada.

“Empreender já era um desejo meu”, conta Saville, que ocupou o cargo de Diretora da Federação Baiana de Empresas Juniores. Já Gabi vinha dos movimentos sociais e das ONGs e tinha um histórico de liderança e autonomia. Nascida em São Paulo, morou em Nova York, Londres e Nova Délhi, na Índia. Ao voltar para o Brasil, adotou Salvador como sua nova morada.

Preparação

Em 2016, a dupla participou de um evento internacional e, meses depois, em 2017, foi chamada para participar de um programa de aceleração de ideias de negócios. O programa, ocorrido em São Paulo, durou sete meses. As amigas foram as únicas selecionadas fora do Sudeste. Durante o evento, tiveram como objetivo validar problema e modelo de negócios e criar redes.

“Tivemos como mentores altos executivos de empresas como Google, Visa, Johnson&Johnson, Spotify e Whirlpool. Ou seja, iniciamos com um incômodo e conseguimos lapidá-lo junto aos melhores para que ele se tornasse um negócio, com conhecimento e estruturação para que fosse uma organização real, com impactos verdadeiros”, destaca.

Parcerias com cooperativas de reciclagem

As ações da Solos são sempre realizadas em parceria com as cooperativas de reciclagem. Para participar do trabalho, é realizado um processo de seleção, que envolve a coleta de dados das cooperativas, bem como uma visita técnica em suas unidades.

Após a primeira contratação, são realizadas pesquisas anuais para ter um retrato das cooperativas, aspectos que foram impulsionados e outros que podem eventualmente ter decrescido para que possam servir de incentivo para ações.

De acordo com Gabriela Tiemy, todos os materiais coletados são enviados para o galpão das cooperativas parceiras, onde é feito o processo de triagem de cada tipo de resíduo, a pesagem e o posterior beneficiamento e/ou comercialização para as indústrias de reciclagem.

“A Solos atua junto às catadoras e catadores de recicláveis desde 2019 e toda a renda gerada é resultado das nossas ações, que aumentam a coleta de materiais recicláveis e consequentemente a receita a partir de sua venda. Além disso, é feita a contratação e o pagamento direto pelos serviços prestados pelas cooperativas. Vale destacar também que o carnaval de rua de Salvador em 2020 teve um impacto altamente relevante para a geração de renda de milhares de catadoras e catadores de várias partes da cidade e da Bahia”, pontua Gabriela.

Mulheres catadoras “Para nós, enquanto mulheres, a igualdade de gênero é sempre transversal em toda a nossa atuação. Quando olhamos especialmente para a realidade da catação no Brasil, 54% são mulheres, segundo o Anuário da Reciclagem de 2021. Trabalhar com elas é sempre muito gratificante porque traz transformações importantes que nossa sociedade precisa, como o olhar sensível e cuidadoso com o meio ambiente ao mesmo tempo em que é cheio de força e potência”, conclui.

Negócios

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