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sábado, novembro 23, 2024

Na falta de mão de obra, empresas pagam até R$ 20 mil para profissionais de tecnologia

Num cenário de 13,9 milhões de desempregados no país, chega a ser difícil imaginar ir a uma entrevista onde o recrutador precisa convencer o candidato a aceitar a vaga. Essa é a realidade dos profissionais de tecnologia. Com alta demanda por mão de obra, as empresas têm “roubado” especialistas das concorrentes, oferecendo atrativos como trabalho remoto, cursos de qualificação, além de altíssimos salários.

Tulio Vieira, head de Data Science do Instituto de Gestão e Tecnologia da Informação (IGTI), conta que basta um curso de seis meses para entrar no mercado ganhando entre R$ 3 mil e R$ 4 mil. Para os mais qualificados, já se pagam salários de R$ 20 mil.

De acordo com dados da Brasscom, Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais, até novembro do ano passado foram contratados 196,5 mil profissionais dessa área — praticamente o dobro do total de contratações em 2020 e 2019 juntos.

A estimativa é que, até 2025, haja demanda por 797 mil talentos, o que representa 159 mil novas vagas abertas por ano. Em contrapartida, em média, apenas 53 mil pessoas são formadas em cursos de perfil tecnológico anualmente.

A plataforma de viagens Hurb está com vagas abertas para Desenvolvedor e Engenheiro de Software, oferecendo R$ 12 mil e R$ 8 mil respectivamente. Já a startup Solfácil, de soluções para geração de energia solar, acaba de abrir mais de 200 oportunidades para pessoas com conhecimento em tecnologia. A remuneração inicial é de R$ 4.800.

— A demanda cresceu exponencialmente na pandemia e ainda dá tempo de aproveitar o boom do mercado. Cursos livres são uma forma rápida de iniciar nesta carreira. No IGTI, por exemplo, oferecemos mais de 40 formações on-line, através de um plano de assinatura mensal de R$ 65 — diz Vieira.

Cientista de dados há mais de 15 anos, Carol Vilas Boas, que atua como Developer Relation Lead na Zup, conta que profissionais brasileiros de tecnologia cada vez mais são vistos como referência no exterior pela qualidade técnica, atraindo a atenção de recrutadores estrangeiros.

— O open source, uma espécie de código aberto em que se pode fazer contribuições, tem ajudado a atrair visibilidade para a carreira desses profissionais. Quando o brasileiro coloca ali as observações dele, é visto pelo mundo todo. Na hora de contratar, isso também é levado em conta, além do currículo — explica Carol.

‘Agora ganho o dobro do salário da antiga carreira’

Depoimento: Jefferson Oliveira, Desenvolvedor de sistemas na Zup, 34 anos

“Trabalhei seis anos como metalúrgico e não tinha muito tempo para família ou amigos. Em 2014, decidi fazer um tecnólogo em Tecnologia e Análise de Desenvolvimento de Sistemas. Depois da pandemia, triplicaram as oportunidades. Em seis anos, troquei de emprego cinco vezes. Hoje, ganho R$ 8 mil, o dobro do salário em relação à antiga carreira”.

Como ingressar na área

Para ingressar na área, são muitos os caminhos. Larissa Gonçalves, gerente de seleção da Luandre RH, aponta algumas formações possíveis no nível superior:

— Existem cinco principais formações em TI: Ciências da Computação, Engenharia da Computação, Sistemas de Informação, Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Gestão em TI. O que diferencia esses cursos entre si é que alguns são mais focados em programação e hardwares e outros possuem mais foco em gestão de TI, administração e sistemas.

Fábio Nogueira, diretor de Negócios da Wyser, unidade de negócios do Gi Group, complementa:

— Existem também (cursos) técnicos e tecnólogos que podem ser feitos, e os dois mais recomendados, dependendo muito da função, são Ciência da Computação e Engenharia da Computação.

Há ainda centenas de cursos livres, no mercado, que custam até R$ 20 mil por três meses de ensino em horário integral. A recomendação antes de assinar um contrato é verificar se o curso é reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) e conversar com ex-alunos da instituição para saber se aprovaram e se a maioria já está empregada

Recebendo em dólar sem sair do Brasil

O interesse de empresas estrangeiras em talentos de TI do Brasil cresceu no último ano, e não falta força de trabalho. Em setembro de 2021, o pagamento em dólar virou realidade para Janaína Coelho, que trabalha com qualidade de software. Ela rapidamente foi aprovada no processo seletivo para atuar na americana AvantStay, que oferece serviços de aluguel em modelo similar ao Airbnb.

— O salário foi o principal fator para procurar empresas de fora. Aqui, eu trabalhava em uma ótima empresa, também em regime de home office. Mas me ofereceram o dobro do que eu ganhava, e em dólar — conta Janaína.

Ela hoje vive como nômade digital — funcionários que trabalham em home office sem base fixa. Até o fim do ano, pretende ficar um mês na Europa e três, na Argentina. Janaína conta que houve explosão de procura por profissionais brasileiros no último ano:

— Todos os meus amigos trabalham com TI para empresas de fora, meu namorado trabalha para uma empresa na Nova Zelândia. Também tem muitas oportunidades para Espanha e Estados Unidos.

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