“O Tietê, para nós, é sobrevivência. Temos muitos pescadores. E muitos empregos dependem do turismo no rio”, diz jornalista
As águas do Rio Tietê assumiram cor esverdeada em vários pontos, nos últimos dias, na região de Barra Bonita, uma das principais estâncias turísticas no interior de São Paulo.
Tapetes verdes de plantas aquáticas também cobriram grande extensão do rio, o que prejudica a pesca, e o mau cheiro espanta os visitantes. De acordo com ambientalistas, a causa é a poluição de esgotos e fertilizantes de lavouras levada para o rio pelas últimas chuvas.
Presidente da ONG Mãe Natureza, Hélio Palmezan diz que as algas proliferam pela abundância de matéria orgânica e de nutrientes na água, aliada ao sol mais intenso nos últimos dias.
“As chuvas recentes deslocaram rio abaixo a poluição que nos períodos de estiagem permanece retida na região metropolitana de São Paulo. Também trouxeram os fertilizantes usados nas lavouras ao longo do rio, favorecendo a proliferação das cianofíceas, também conhecidas como algas azuis, que logo apodrecem e reduzem o oxigênio da água, podendo causar a mortandade de peixes“, explicou.
Já os aguapés, que na quantia certa ajudam a despoluir os rios, quando proliferam demais passam a ser indicativos de poluição.
“Em grande quantidade, impedem a passagem da luz, diminuem o oxigênio e prejudicam a vida aquática.” Segundo o ambientalista, o problema foi observado na semana passada e se acentuou no fim de semana do carnaval, com o sol e o calor.
Na terça, ele registrou em fotos a cor verde da água na prainha de Barra Bonita e muitos aguapés em vários pontos do rio.
Passeio
A jornalista Thais Moraes fez passeio de barco com a família pelo rio no domingo, e registrou a eclusa da barragem de Barra Bonita totalmente tomada pelo aguapé.
“A quantidade assustava, não dava para ver o rio”, descreveu. O cheiro também a incomodou. “Quando não temos essas algas, o rio não cheira. Neste domingo, o cheiro era forte e insuportável,” disse a jornalista barra-bonitense, que lamenta a situação.
“Nosso povo sofre. O Tietê, para nós, é sobrevivência. Temos muitos pescadores. E muitos empregos dependem do turismo no rio.”
A presença de algas e aguapés no Tietê, mais evidente na área urbana de Barra Bonita, atinge cerca de 300 km do rio. Após passar pela capital, o Tietê banha outras 62 cidades ao longo de 600 km, até desaguar no Rio Paraná. Houve registros de trechos com algas também no município de Bariri.
Moradores de Sabino, a 470 km de São Paulo, relataram que a água da prainha da cidade estava esverdeada no fim de semana. Grandes “ilhas” de aguapé também foram registradas ainda mais adiante, próximo da barragem da hidrelétrica de Promissão.
Em Anhembi, mais próximo da capital, o lago formado pela barragem está parcialmente tomado pelas plantas aquáticas. Ao menos 90 famílias vivem da pesca e estão sendo prejudicadas, segundo a prefeitura. O turismo que movimenta a cidade nos fins de semana também foi afetado.
“É tanto aguapé que não dá para ver a água; o turista só vê mato. Isso quando os barcos conseguem navegar, pois tem lugar que nem dá para passar”, afirma a empresária Janete Aparecida Lotério, do Anhembi Camping.
